Estudantes precisam escolher prioridades de governo e fazer investimentos em infraestrutura, mantendo popularidade e finanças do município em ordem
Luiza Bandeira – Nexo, 07/11/2017
O que você faria se fosse prefeito por um dia? É esse o desafio lançado pelo Cidade em Jogo, um game on-line destinado a jovens e estudantes, desenvolvido pela Fundação Brava, uma organização de São Paulo voltada para melhoria da gestão pública, em parceria com o Woodrow Wilson Center, um centro americano de políticas públicas.
O jogo pode ser acessado pela internet e tem como objetivo principal ajudar professores a ensinar temas como cidadania e gestão em sala de aula, principalmente a estudantes do ensino médio. De acordo com a fundação, o game já foi acessado por mais de 5.000 usuários em 13 estados.
Cidade em Jogo é uma espécie de SimCity sem a distopia. Em vez de construir a cidade, o participante precisa decidir quais políticas públicas serão adotadas. Quem joga escolhe que tipo de cidade irá governar: um município rural com menos de 50 mil habitantes, economia baseada em agropecuária e desafios nas áreas de educação, saúde e emprego; uma cidade turística média, com cerca de 200 mil habitantes e problemas de saneamento, transporte, saúde e educação; e, por fim, uma metrópole global com milhões de habitantes que sofre com poluição, trânsito e desigualdade.
O primeiro passo é decidir quais áreas serão prioridade da gestão: investir no futuro ou no combate à corrupção? Cortar imposto ou reduzir desigualdades? Escolhidas as prioridades, o usuário passa a eleger políticas públicas que serão implementadas – três por rodada. Priorizar educação ou saúde? Investir em novos ônibus ou na rede de saneamento? Ao selecionar um programa, o usuário recebe informações sobre os prós e contras da política escolhida para decidir se segue com o plano ou o reconsidera.
O grande desafio é implementar essas políticas mantendo a aprovação popular, colaborando para a infraestrutura da cidade e conservando as finanças municipais em ordem. De acordo com Henrique Krigner, gerente de projetos do game, os dois primeiros indicadores começam no “zero” (são neutros, nem bons nem ruins), mas a gestão começa com algum dinheiro em caixa para tomar medidas emergenciais – ou seja, não há como culpar a “herança maldita” da gestão anterior. O impacto das medidas adotadas pelo prefeito em popularidade foi calculado com base em pesquisas de opinião sobre as prioridades dos eleitores nas duas últimas eleições municipais (2012 e 2016). Como os temas prementes eram saúde, educação e segurança, investimentos nestas áreas aumentam a popularidade. Aumentar impostos, porém, faz cair o índice de aprovação.
Crises inesperadas
Ao final de cada rodada, o usuário vê como esses indicadores estão evoluindo e o quão perto ele está de alcançar suas prioridades de governo. Mas surgem emergências comuns a inúmeras gestões: aumento de incidência de mosquitos Aedes aegypti, transmissores da dengue; greve de professores, ou ainda escândalos de corrupção envolvendo secretários do governo. O jogador precisa escolher entre duas opções de ação para responder às crises. Por exemplo, entre conceder aumento aos professores ou ignorar suas demandas, ou entre abafar o caso de corrupção ou exonerar o secretário. Cada escolha terá suas consequências (pode aumentar a popularidade mas afetar o caixa do governo, ou vice-versa) Alguns destes eventos aparecem para todos os jogadores, mas a maioria é relacionada a decisões tomadas na gestão. Se não houve investimento em educação, por exemplo, estudantes podem ocupar as escolas. Já a falta de atenção à infraestrutura gera deslizamentos de terra.
O jogo tem dez rodadas e dura, em média, de 20 a 35 minutos. O prefeito que consegue manter índices positivos em infraestrutura, popularidade e finanças, além de conseguir avanços em áreas que foram promessas de campanha (as prioridades da gestão escolhidas no início do jogo), ganha uma manchete de jornal elogiando seu governo. Quem falha em alguns destes indicadores é noticiado como alguém que tentou. Já aquele que fracassa totalmente recebe uma manchete negativa: “Finalmente acabou”. O jornal fictício também mostra quais foram as principais medidas adotadas pelo prefeito em sua gestão e pode ser compartilhado nas redes sociais.
Cidade em Jogo foi testado por cerca de 250 estudantes em oito escolas da rede pública e privada em São Paulo, Araraquara e Guarulhos. Krigner afirma que a equipe que criou o projeto imaginou que ele seria utilizado principalmente por professores de sociologia e filosofia, mas também houve interesse por professores de história, geografia e português, entre outros. Segundo a fundação, 57% dos estudantes de escolas públicas e 73% das privadas disseram se interessar mais por política após jogar. Além disso, houve crescimento de 20% no número de estudantes que dizem acreditar poder influenciar na gestão municipal.
Link para matéria: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/11/07/Como-%C3%A9-o-jogo-que-transforma-alunos-em-prefeitos-por-um-dia